A 54a Casa de Criadores revisitou e apontou novas tendências
Por Adele Grandis
Editor Eduardo Araújo
A 54ª Casa de Criadores chegou a sua catarse criativa nas passarelas que se mesclavam com as ruas de São Paulo, no Vale do Anhangabaú, Praça Ramos de Azevedo, Galeria Prestes Maia e Biblioteca Mario de Andrade. Durante os desfiles, pudemos observar referências que mais uma vez imergem na moda nacional - não apenas como uma tendência do que está por vir, mas permeando o que já vemos pelas ruas, no dia a dia das pessoas, assim o limiar entre rua e palco da moda se mostra cada vez mais borrado.
Nos primeiros três dias desta edição, compilamos aqui alguns destaques. Agora, com o encerramento destes seis dias de temporada inverno/primavera como bem pontual Alexandre Herchcovitch, elencamos outras cinco propostas que devem representar bem o entremeio das estações.
#01: A DESCONSTRUÇÃO COM CORTES INUSITADOS
Os cortes inusitados, já apontados por marcas nas temporadas anteriores, se firmam como uma das tendências mais marcantes desta edição. Seja em blusas, calças, vestidos ou outras peças, esses cortes - tanto manuais, como a laser - trouxeram uma estética desconstruída e contemporânea, seja na junção de materiais de trânsmutação têxtil ou upclycing ou seja em tecidos planos desafiando as silhuetas tradicionais.
As peças apareceram com assimetrias, recortes estratégicos e formas inesperadas, criando visuais únicos e expressivos que se destacam pela ousadia e que tem a versatilidade da mudança do clima no decorrer do dia, aberturas que privilegiam o calor do dia, mas te protege da brisa de um dia chuvoso ou da garoa noturna.
#02: FITAS E AMARRAÇÕES
As fitas e amarrações surgiram como elementos decorativos e funcionais, adicionando charme e complexidade às peças. De diversos tecidos e em várias partes das roupas, esses detalhes apareceram em laços, tiras e cordões, ora criando um visual romântico, ora moderno. Eles foram utilizados para ajustar, decorar ou simplesmente como uma adição estilística, mostrando que pequenos detalhes podem transformar uma peça.
O que vimos também são peças com macramês que tem a sua finalização aberta, dando um ar de cobertura e um esvoaçante detalhe. A mistura de cor nesses fitilhos mostram uma conexão forte com o floral primaveril.
#03: VOLUMES E BABADOS EXUBERANTES
Outra tendência forte foi o uso de volumes e babados, camadas, camadas e camadas! Em muitos desfiles vieram tanto em peças completas quanto em detalhes específicos. Essa estética exuberante que pode nos lembrar uma cobertura de bolo trouxe movimento com volume e sofisticação às roupas, destacando-se em saias, mangas e até mesmo em acessórios. Criadores exploraram diferentes tecidos e técnicas para criar peças formas que capturam a atenção e adicionam uma dose extra de glamour.
#04: ALFAIATARIA REPAGINADA
A alfaiataria, um clássico do vestuário, foi reinventada nesta edição. Com cortes diferenciados, tecidos inovadores e detalhes inesperados, a alfaiataria repaginada trouxe uma nova perspectiva sobre o vestuário formal. Blazers, calças e ternos ganharam novas formas e estilos, assim como camisas com golas peter pan e camisões gigantes mostrando que é possível misturar o tradicional com o contemporâneo para criar o look clássico e singular.
#05: MÁSCARAS POR TODOS OS CANTOS
Por fim, as máscaras ganharam destaque como um acessório de moda essencial. Muitas das marcas tiveram a pintura facial como Kabuki ou Clown sendo complemento ou elemento principal na assinatura da beleza. Tivemos também a aparição das máscaras nas próprias roupas, seja como estampa ou acompladas ao tecido feitas de látex. A proteção facial, criação de personas e apropriação de signos antigos do teatro e do circo ganham uma nova leitura social, e as masks também apareceram como elemento mais plástico, sendo uma cobertura de pepino feito por MAXI Weber muito similar ao efeito PAT McGRATH ou tocas com o contorno total do rosto, destacando-o.
Desde versões minimalistas até criações extravagantes, na era selfie + inteligência artificial elas se tornam questionadoras do que somos em sociedade e o que é um rosto de verdade ou construido temporariamente. Um elemento de mistério e teatralidade as narrativas contadas.
A moda não apenas antecipa tendências, mas também reflete o que já está acontecendo nas ruas. As tendências de cortes inusitados, fitas e amarrações, volumes e babados, alfaiataria repaginada e máscaras já são uma realidade no cotidiano das pessoas.
Esses elementos, apresentados de forma inovadora nas passarelas, não estão apenas reservados para ocasiões especiais, mas também fazem parte do estilo diário de quem busca expressar sua personalidade através da moda. O interessante foi ver vários estilistas se auto-referênciando em leituras ainda mais detalhadas e bem acabadas de trabalhos já realizados.
Assim, a Casa de Criadores que se pergunta Qual o Sentido da Moda? vem sentindo muitas nuancas criativas que a refletem nossos comportamentos em sociedade, já que é uma expressão acessível e presente, e influenciada ou influenciando está nas ruas.
Marcas referenciadas nas imagens, de cima para baixo, em ordem: , a neoutopia, Le Benites, PEDRA, Dellum, Ellias Kaleb Ken-gá, Alexandre Herchcovitch, Rober Dognani e Felipe Fanaia, Shitsurei, Vittor Sinistra e Guilherme Valente.
Fotos por @agfotosite Marcelo Soubhia